Running e as Articulações

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A inatividade física, ou sedentarismo, está classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o quarto principal fator de risco para a mortalidade global. Para a diminuição do risco de incidência de doenças crónicas não transmissíveis esta organização recomenda que os adultos pratiquem, pelo menos, 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada por semana. A atividade física melhora a aptidão cardiorrespiratória e muscular, a saúde óssea e a forma física global. E se há quem prefira a prática de exercício em ambiente fechado frequentando ginásios, piscinas ou outras estruturas, são cada vez mais os adeptos da prática de exercício físico ao ar livre, em contacto com a natureza, associando o exercício físico ao lazer e ao prazer da descoberta de novos lugares que, de outra forma, dificilmente estariam acessíveis.

A popularidade da Corrida de estrada e pista e do Trail Running (designação em inglês de corrida em trilhos) tem vindo a crescer substancialmente, o que não é alheio ao facto de a corrida ser um dos exercícios físicos mais eficientes no controlo do peso e melhoria da condição física e de ter uma forte componente social e motivacional associada. A principal diferença entre corredores de estrada e praticantes de trail running tem a ver sobretudo com as características do terreno (desníveis positivos e negativos intensos) e com o tipo de percurso, a que se somam ainda as características ambientais associadas a estas duas tipologias de atividade no exterior (frio, calor, ventos fortes, noite, humidade, entre outras).

Apesar de ser uma das modalidades de atividade física com maior popularidade no mundo e com um crescente número de praticantes, o Running tem também taxas de incidência de lesões músculo-esqueléticas que podem variar entre 19 e os 79%.

A maioria das lesões relacionadas com a corrida decorrem de fatores extrínsecos ou intrínsecos relacionados. Os fatores extrínsecos são aqueles que estão direta ou indiretamente ligados à preparação da corrida em si e que envolvem erros de planeamento e execução dos treinos (intensidade, duração, frequência, descanso, alongamento, aquecimento), tipos de superfície (areia, asfalto, relva), tipo de percurso (declive, plano, irregular), tipo de calçado, alimentação e prática de outras modalidades desportivas concomitantemente.

Por fatores intrínsecos entendem-se todos os que predispõem às lesões por estarem inerentes ao próprio organismo: anormalidades biomecânicas e anatómicas (pés, tornozelos, calcâneo, tíbia, joelhos, assimetrias de comprimento dos membros inferiores), flexibilidade, histórico de lesões, características antropométricas (peso, altura, IMC), densidade óssea, composição corporal e condicionamento cardiovascular.

Tal noutras modalidades, as lesões da corrida podem resultar também da sua prática excessiva, o que favorece o desenvolvimento de lesões por sobrecarga, já que é comum os atletas manterem a intensidade e até volume de treino mesmo durante a ocorrência de dor, queixa ou lesão músculo-esquelética.

 

Quais as lesões mais frequentes na corrida?

Tal como acontece com os tratamentos, também no exercício físico existem os chamados efeitos secundários ou adversos. A prática de exercício físico leva tempo e deve ser iniciada de forma moderada, aumentando progressivamente a intensidade. Caso contrário, o exercício físico pode dar origem a diversos tipos de lesões. Conheça algumas das lesões mais frequentes nos praticantes de corrida:

Joelho do corredor

Também denominado por síndrome da dor patelo-femural, um termo amplo que é usado para descrever dor na frente do joelho e ao redor da rótula. A dor e rigidez causada pela síndrome da dor patelo-femural dificulta movimentos como subir e descer escadas, ajoelhar-se e executar outros movimentos em que seja necessário fletir o joelho. Diversos fatores podem estar na origem do desenvolvimento desta síndroma: ou problemas de alinhamento da rótula ou sobrecarga e uso excessivo. É uma lesão muito frequente nos atletas, sobretudo nos que praticam corrida. Na maior parte dos casos, o síndrome da dor patelo-femural surge na sequência de atividades físicas vigorosas que causam repetida pressão no joelho como é o caso da corrida. Poderá ocorrer igualmente quando se dá uma mudança repentina na atividade física ou na frequência e intensidade com que se pratica a corrida, o que acontece quando, por exemplo, se aumenta o número de dias em que se corre por semana ou aumenta a distância percorrida. Fatores como técnica inadequada, equipamento inadequado (calçado) ou superfície em que se pratica a corrida (estrada, pista, trilhos) podem também estar na base do desenvolvimento deste tipo de lesão.  

Fasceíte plantar

A fasceíte plantar é a causa mais comum de dor no fundo do calcanhar. Aproximadamente 2 milhões de pessoas sofrem todos os anos este tipo de lesão. A fasceíte plantar ocorre quando a fáscia (uma banda espessa de tecido) que corre ao longo da planta do pé e liga o calcanhar aos dedos fica irritada e inflamada. A fáscia plantar é projetada para absorver a tensão que colocamos nos pés. Sucede, porém, que tensão em demasia pode danificar ou rasgar o tecido e a resposta natural do corpo é a inflamação, que resulta na dor no calcanhar e na rigidez da fasceíte plantar. Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento desta condição como sejam a rigidez dos músculos gémeos, excesso de peso ou obesidade, atividades de impacto repetitivo (como acontece com a corrida), quando se passa do sedentarismo para uma atividade física vigorosa ou quando se aumenta repentinamente a intensidade do exercício físico.  

Tendinite do Aquiles

A tendinite de Aquiles é uma condição comum que ocorre quando o tendão de Aquiles – o maior tendão do corpo, que se situa na parte de trás da perna e liga os músculos gémeos da perna ao osso do calcanhar – fica irritado e inflamado. Embora o tendão de Aquiles possa suportar a força imputada a atividades como correr, saltar ou andar, é também propenso a tendinites, uma condição que está sobretudo associada ao uso excessivo ou a degeneração. A tendinite de Aquiles normalmente resulta de um uso repetitivo que causa stress ao tendão. O aumento repentino na quantidade ou intensidade de atividade física – aumentando por exemplo a distância percorrida na corrida sem que o corpo se ajuste progressivamente a uma distância mais longa – pode originar uma tendinite de Aquiles. Também a tensão aumentada nos músculos gémeos ao iniciar repentinamente um programa agressivo de exercícios pode levar a um aumento do stress no tendão de Aquiles. A existência de um esporão ósseo – um crescimento ósseo extra na zona onde o tendão de Aquiles se conecta com o calcanhar – pode igualmente aumentar a fricção junto do tendão e causar dor e inflamação.

 

Prevenção

Amantes da Corrida e do Running Trail? Não esqueçam os principais mandamentos da prevenção de lesões:

  • Nunca falhar o aquecimento muscular;

  • Estabeleça e cumpra um adequado programa de alongamentos;

  • Aposte em exercícios de fortalecimento muscular;

  • Evite aumentos súbitos na carga de treino;

  • Use calçado e equipamento adequado;

  • Dê muita atenção à postura;

  • Com o tempo, vá melhorando a técnica da corrida.

     

Referências:

ORTHOINFO ONLINE. Disponível em https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases--conditions/patellofemoral-pain-syndrome/. Consultado em 09 dezembro de 2019.

ORTHOINFO ONLINE. Disponível em https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases--conditions/achilles-tendinitis/. Consultado em 09 dezembro de 2019.

Márcia Alexandra Ferreira de Almeida, «Considerações médico-desportivas acerca da corrida em trilhos». Disponível em https://sigarra.up.pt/icbas/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=286144. Consultado em 05.12.2019

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