Artrite
O que é Artrite?
A Artrite refere-se à inflamação de uma articulação. A inflamação pode afetar estruturas importantes no interior da articulação nomeadamente a membrana de revestimento (designada membrana sinovial), a cartilagem, o osso e os tecidos de suporte.
A artrite pode estar presente em apenas uma ou várias articulações no corpo.
Existe uma grande variedade de causas de artrite, algumas de fácil resolução outras mais difíceis de controlar e inclusivé poderão deixar sequelas incapacitantes sobretudo se não diagnosticadas e tratadas atempadamente.
A correta caraterização da artrite em conjunto com o contexto clínico constituem o primeiro passo para estabelecer um diagnóstico correto.
Quais os sintomas de Artrite?
Os sintomas mais comuns incluem dor, edema ou tumefação, rubor e rigidez da articulação ou articulações envolvidas. Poderão surgir outros sintomas nomeadamente fadiga, febre baixa (38°), anemia, rigidez com impacto significativo na funcionalidade (capacidade de desempenhar tarefas básicas do dia a dia como a higiene, os autocuidados, levantar-se/sentar-se, andar, etc.), entre outros sintomas dependendo da causa da artrite.
Como curar/tratar a Artrite?
O tratamento e o prognóstico são distintos dependendo da causa de artrite.
O tratamento na fase inflamatória poderá passar pelo repouso (inclui proteção da articulação ou articulações afetadas, incluindo um período de imobilização ou descarga total ou parcial se necessário, com auxilio de canadianas, no caso de articulações que suportam o peso do corpo como o joelho e a anca), medidas locais (como o gelo por exemplo, de acordo com a tolerância do doente, anti-inflamatórios tópicos), medicação analgésica e anti-inflamatória ou até antibióticos no caso de se tratar de uma causa infeciosa. Raramente é necessário o recurso a tratamento cirúrgico na fase aguda salvo em casos selecionados de dor e inflamação refratários a terapêutica conservadora. A cirurgia poderá também ser necessária no tratamento de possíveis sequelas da artrite, nomeadamente na presença de destruição das superfícies articulares com dor incapacitante e rigidez articular associadas com impacto na funcionalidade.
A reabilitação por equipa multidisciplinar constituída por Médico Fisiatra, Fisioterapia, Terapia ocupacional, Psicoterapia entre outros profissionais terá interesse na recuperação da mobilidade articular, na prescrição de produtos de apoio (sejam talas de imobilização, proteção ou auxiliares de marcha com canadianas, etc.), no treino funcional (auto-cuidados, vestir, banho, transferências e caminhar) assim como o ensinar formas de desempenhar as mesmas tarefas com o mínimo gasto de energia e esforço articular possível (medidas de economia articular) e apoio psicológico dado o impacto significativo que algumas patologias que cursam com artrite terão na funcionalidade e qualidade de vida destes doentes.
O plano de exercícios será prescrito após uma avaliação individualizada e mais uma vez dependerá da causa de artrite e de outros problemas de saúde que o doente possa ter.
Quais os tipos de Artrite?
Artrite Reumatóide
A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória auto-imune de causa desconhecida.
O alvo principal desta doença é o tecido sinovial. Verifica-se uma proliferação da sinovial de forma descontrolada podendo destruir a articulação, o osso circundante e os tecidos peri articulares (tendões e ligamentos). Qualquer articulação sinovial pode ser afetada. As articulações primariamente envolvidas são as pequenas articulações das mãos e pés (classicamente as articulações interfalângicas proximais, metacarpofalângicas e metatarsofalângicas), sendo o envolvimento de grandes articulações mais tardio.
A Artrite Reumatóide pode surgir em qualquer idade sendo mais comum em mulheres. A idade típica de instalação da doença nas mulheres é nos últimos anos de idade fértil e nos homens entre os 60 e os 80 anos.
Os sintomas incluem dor, edema ou tumefação das articulações envolvidas e rigidez principalmente matinal que poderá limitar significativamente a capacidade de realizar atividades de vida diária como a higiene e os autocuidados. Poderão surgir outros sintomas nomeadamente fadiga, febre (até 38°), anemia, entre outros.
Embora a Artrite Reumatóide não tenha cura, as terapêuticas mais recentes resultam em benefício clinico substancial para a maioria dos doentes, particularmente se o diagnóstico for precoce e o tratamento iniciado atempadamente. A reabilitação por equipa multidisciplinar incluindo médico Fisiatra, fisioterapia e terapia ocupacional terá interesse na recuperação da mobilidade articular, na prescrição de produtos de apoio e medidas de proteção e economia articular.
A Artrite Reumatóide se não tratada, encurta a sobrevida, é incapacitante e reduz significativamente a qualidade de vida.
Artrite Séptica
A Artrite sética é uma inflamação articular de causa infeciosa (bacteriana).
As bactérias não gonocócicas mais comumente envolvidas são o Staphylococcus aureus, Streptococos, bacilos gram negativos (Haemophilus influenzae…) e anaeróbios (Propioni bacterium acnes…); As infeções gonocócicas são causadas pela bactéria Neisseria gonorrhoeae.
As bactérias podem infetar as articulações à distância através do sangue, por infeção local direta ou por disseminação a partir de infeção do osso ou tecidos adjacentes. Embora as infeções na pele sejam as que mais predispõem a infeção articular, infeções respiratórias, gastrointestinais e genito-urinárias poderão igualmente estar na base de uma infeção articular. As infeções gonocócicas constituem a causa mais comum de artrite sética em adultos jovens sexualmente ativos.
A artrite sética é uma emergência médica uma vez que o atraso no diagnóstico e no início do tratamento podem levar a danos irreparáveis na articulação e inclusive causar a morte (sobretudo nos casos de poliartrite sética e em doentes imunocomprometidos). Mesmo em casos de tratamento atempado, 25 a 50% poderão ficar com lesões articulares permanentes. A destruição ocorre poucos dias após a infeção inicial.
É mais frequente em doentes com Artrite Reumatóide e em doentes com Próteses (de anca e joelho, por exemplo) quando comparados com a incidência na população geral. É mais comum nas crianças do que em adultos.
Os sintomas surgem de forma súbita e incluem dor moderada a severa, edema ou inchaço e calor na articulação e restrição no movimento articular. O atingimento pode ser de uma ou múltiplas articulações. A artrite monoarticular é mais frequente no joelho (40-50%), anca (13-20%), ombro (10-15%) entre outras de atingimento menos frequente mas igualmente possível como em pequenas articulações das mãos e pés. A febre pode estar presente em 60-80% dos casos embora a elevação da temperatura possa não ser pronunciada. Sintomas respiratórios, gastrintestinais e genito-urinários podem anteceder a infeção articular.
O diagnóstico é feito a partir da análise do líquido sinovial. Entre vários parâmetros avaliados é feita a identificação da bactéria.
O tratamento da artrite sética passa pela drenagem da articulação infetada e pelo início de antibióticos específicos. Deverá ser iniciada mobilização suave progressiva da articulação para prevenir a rigidez articular. No caso de tratar-se de uma prótese articular infetada, além da antibioterapia poderá ser necessária nova intervenção cirúrgica.
Artrite Reativa
A Artrite reativa é uma condição inflamatória sistémica (que afeta vários sistemas no organismo) desencadeada por infeções bacterianas do trato gastro-intestinal ou genito-urinário.
É um dos subtipos pertencente ao grupo das Espondiloartropatias (também incluídas neste grupo: a Artrite Psoriática, a Espondilite Anquilosante e a Artrite enteropática associada à doença inflamatório intestinal); todas partilham o padrão de atingimento oligoarticular, artrite do esqueleto axial (sacroilíacas e coluna vertebral) e entesopatia (patologia no local de inserção do tendão, ligamento e fáscia no osso).
A Artrite Reativa tipicamente desenvolve-se 1 a 4 semanas após uma gastroenterite ou após uma infeção do trato genito-urinário.
A maioria dos casos é esporádico, mas pode ocorrer em grupos de pessoas após surtos de gastroenterite.
Geralmente desenvolve-se em adultos entre os 20 e os 40 anos.
O curso é variável. Sintomas de uretrite (inflamação uretra) e conjuntivite (inflamação ao nível da conjuntiva do olho) em relação com infeção genito-urinária ou entérica (intestinal) podem preceder a artrite. A artrite é geralmente ligeira mas pode assumir formas mais graves associada a perda de peso, febre e outros sintomas constitucionais. A entesopatia é um sintoma comum.
A Artrite reativa pode consistir num único episódio ao longo da vida autolimitado com duração de alguns meses ou os doentes podem experienciar vários episódios com duração de semanas a meses e que podem recorrer durante anos após o primeiro episódio.
As formas mais graves, destrutivas e incapacitantes, são raras.
Artrite Psoriática
A Artrite Psoriática é uma inflamação articular (uma artropatia inflamatória) que surge em doentes com Psoríase.
Pertence ao grupo das espondiloartropatias, um grupo de artrites caracterizadas por entesopatia (patologia no local da inserção do tendão no osso), artrite do esqueleto axial (sacroilíacas e coluna vertebral), atingimento de várias articulações periféricas de forma assimétrica e ausência de fator reumatóide. Tem predileção pelas articulações interfalângicas distais.
Desenvolve-se em aproximadamente 10% dos doentes com Psoríase.
A idade média de início da doença varia entre os 30 e os 55 anos, não havendo prevalência de género.
A causa é desconhecida. Associações a fatores genéticos, infeciosos e auto-imunes têm sido feitas.
A Artrite psoriática tipicamente manifesta-se após ou coincidente com o início da psoríase, no entanto em alguns casos a artrite pode preceder a psoríase em 2 anos.
As manifestações articulares são muito variáveis, desde o atingimento de uma única articulação (monoartrite) ou múltiplas articulações (poliartrite), a artrite destrutiva disseminada (artrite mutilante).
O curso da doença é variável. Não existem marcadores específicos para o diagnóstico, nem preditores de outcome a longo prazo.
A Artrite psoriática dependendo da sua evolução poderá ter um impacto significativo na funcionalidade e qualidade de vida.
Artrite Gotosa
A Artrite gotosa ou “Gota” é uma doença inflamatória resultante da deposição de cristais de monourato de sódio (ácido úrico) nas articulações.
A história natural da Gota pode ser dividida em 3 fases: hiperuricemia assintomática (quantidade de ácido úrico no sangue elevado), Gota Aguda e Intermitente (intercrítica) e Gota Tofácea Crónica (presença de tofus gotosos).
A probabilidade de desenvolver gota e a idade em que ocorre correlaciona-se com a duração e a magnitude da hiperuricemia. O primeiro episódio de artrite gotosa geralmente surge após 10 a 30 anos de hiperuricemia assintomática.
O consumo excessivo de álcool, traumatismo, excessos alimentares, fármacos, agravamento da função renal, infeções são alguns dos potenciais desencadeadores de artrite gotosa aguda.
O início geralmente é súbito com dor e inflamação exuberante (calor, rubor e inchaço) de uma única articulação (mais comumente ao nível do pé na 1ª metatarsofalângica); a dor agrava atingindo o seu pico máximo durante 8 a 12 horas. Podem surgir outros sintomas nomeadamente febre. Ao longo do tempo poderá haver o envolvimento de outras articulações e com ataques (crises) mais frequentes.
O diagnóstico é feito a partir da identificação de cristais de ácido úrico no líquido sinovial. Durante a crise poderá não haver aumento da concentração de ácido úrico no sangue, pelo que a hiperuricemia (durante a crise) não é critério de diagnóstico.
Os sintomas resolvem rapidamente se o tratamento for iniciado precocemente. Mesmo se não tratado as crises resolvem espontaneamente entre 1 a 2 semanas.
Existem critérios específicos para o início de terapêutica medicamentosa. Nem todos os casos de hiperuricemia são para medicar. A artrite gotosa aguda trata-se com anti-inflamatórios, colchicina e corticoides havendo critérios específicos para orientar a escolha.
Educar os doentes é fundamental para que seja feito o controlo dos fatores de risco associados à gota. Assim recomendam-se alterações nos hábitos alimentares nomeadamente evitar o consumo de vísceras de animais (moelas, fígado…), produtos de charcutaria e refrigerantes. Reduzir o consumo álcool sobretudo cerveja, de carne (porco, ovelha ou bovino), conservas de peixe e marisco, açúcar e sal. Encorajar o consumo de alimentos com pouca gordura e aumentar o consumo de legumes e produtos hortícolas.
Artrite Idiopatica Juvenil
Existem muitas causas de dor articular na infância e adolescência.
O primeiro passo na abordagem da dor articular será distinguir a artrite (com inflamação da articulação e da sua membrana sinovial, designado por sinovite) das restantes patologias articulares ou causas de dor articular que não cursam com inflamação da articulação.
A Artrite Idiopática juvenil (AIJ) compreende um grupo heterogéneo patologias diferentes, que têm em comum: sinovite, que persiste por 6 ou mais semanas, em indivíduos com idade inferior a 17 anos.
A sua causa é desconhecida (idiopática).
Existem 7 subgrupos de AIJ: 1) Início sistémico (Doença de Still); 2) Artrite relacionada com entesopatia; 3) Artrite Psoriática; 4) Artrite oligoarticular; 5) Artrite seronegativa poliarticular; 6) Artrite seropositiva poliarticular; 7) Outras.
O diagnóstico da AIJ é baseado em critérios: idade, o número e tipo de articulações envolvidas e a presença de sintomas associados como rash (manchas vermelhas na pele), febre e irite (inflamação ao nível do olho).
O subgrupo é determinado com base no padrão da doença durante os primeiros 6 meses desde o início dos sintomas.
Não existem análises ou exames de imagem específicos que possam confirmar o diagnóstico mas poderão ter utilidade na exclusão de outras causas de dor articular.
Os sintomas, o tratamento e o prognóstico são distintos dependendo do subgrupo da AIJ.